sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Entrevista: Fábio Ventura



É com grande prazer e orgulho que vos trago a primeira entrevista do blog Culturwave. Uma entrevista a Fábio Ventura, um jovem autor do Algarve que com apenas vinte e quatro anos tem já dois livros publicados pela Casa das Letras.
Fábio escreveu o que para mim foi um dos melhores lançamentos de 2009, "Orbias - As Guerreiras da Deusa", dando um novo fôlego à literatura fantástica em Portugal e conseguindo um sucesso bastante surpreendente para alguém tão jovem e sem nome no mercado.

Agora, passado quase um ano, lança o segundo volume da saga intitulada "Orbias - O Demónio Branco". Com esse mote deixovo-os com uma série de perguntas variadas e num tom descontraído e amigável, querendo que os leitores do Culturwave conheçam um pouco mais deste jovem talentoso, criativo, humilde, simpático e sempre acessível. Espero que gostem. E não se esqueçam de ler os dois volumes de "Orbias". Obrigatório no panorama literário português actual!



- Tens algum tipo de ritual de escrita?
Não tenho nenhum ritual específico. Apenas preciso de estar sozinho e sempre com boa música a tocar nos headphones. Não consigo escrever sem música.

- Escreveste os dois livros em que locais? À mão ou a computador?
Escrevi sempre em casa e no computador. Não gosto de escrever à mão. Para além de ter uma caligrafia terrível, penso que no meu caso é um desperdício de tempo. Eu e o computador temos uma relação muito íntima, eheh.

- Como escritor qual a tua melhor arma para combater o bloqueio e a falta de inspiração?
No meu caso, a melhor arma é mesmo parar de escrever e ver um filme, série, jogar alguma coisa para ver se relaxo e se a inspiração regressa. É infalível!

- De todas as tuas personagens, qual a que mais se parece contigo?
Todas as personagens têm um pouco de mim, como se fossem minhas filhas. Mas diria que a Noemi é a que mais se parece comigo pela sua racionalidade, pela forma como pensa demasiado nas coisas, como sonha demasiado alto ou como também consegue ser divertida se tiver a confiança necessária para isso.

- Consegues imaginar os teus livros traduzidos em outras línguas? Alguma possibilidade de isso acontecer no futuro?
Consigo imaginar, mas tenho consciência que é muito, muito difícil. Portugal não é um país com muita tradição de exportação de obras nacionais, talvez devido à barreira da língua. Claro que é um grande desejo meu, mas penso que seria necessário mais sucesso e mais vendas. Talvez o Brasil seja um sonho mais realista, até porque recebo constantemente mails de brasileiros a pedir os livros no seu país. Nunca se sabe…

- Gostarias de escrever em parceria com outra pessoa ou o teu processo de criação é demasiado pessoal para partilhar?
Sinceramente, não me vejo a escrever com ninguém. Penso que em raros casos isso resulta e, mesmo assim, em alguns livros é vísivel as diferentes influências das duas pessoas. A escrita é um processo muito pessoal e intimista para mim, diria até que sou egoísta nesse aspecto. Porque, afinal, onde termina a liberdade criativa de um e começa a do outro?

- Costumas fazer os teus lançamentos em livrarias, mas se pudesses ter um orçamento gigantesco e escolher um local e organizar um mega lançamento de sonho como seria?
Hm, é complicado. Penso que uma sessão de lançamento de um livro nunca iria resultar se fosse um evento demasiado grande. Há um certo toque intimista, de contacto com o público, que aprecio bastante nessas sessões. Para mim, uma Fnac, Bertrand, etc. chegam muito bem.

- Consideras que o teu livro abriu portas a outros jovens escritores em Portugal?
Gosto de pensar que sim, até porque sou contactado constantemente por jovens autores em busca de conselhos. Penso que o meu livro trouxe uma nova essência à literatura fantástica portuguesa que fazia falta. E uma vez que o meu livro foi tão bem sucedido, acredito que outras editoras se sintam mais seguras para dar oportunidades a outros jovens autores. Temos tão bons talentos em Portugal! Gostava que o nosso “grupo” crescesse, principalmente porque a literatura só tem a ganhar com as visões originais e refrescantes de autores mais jovens. E quando digo “jovem”, falo da casa dos 20 e não da casa dos 30 como a imprensa refere…

- Que conselhos dás a quem queira escrever um livro em Portugal?
Muita persistência! É preciso ler bastante, de preferência, vários géneros e estilos; praticar a escrita e exercitar a criatividade. Depois é ir à luta, ter muita paciência e alguma sorte para que alguma editora dê uma oportunidade.

- Qual o filme, a música e o livro da tua vida?
Bem, filme, e mesmo não gostando de cinema francês, é o “Fabuloso Destino de Amélie Poulin”. É um filme lindíssimo que não me canso de ver e que mexe comigo de uma forma abismal. Deixa-me sempre com um sorriso quando vejo esse “conto de fadas dos tempos modernos”.
Música, qualquer uma dos Evanescence. Sou um grande fanático pela banda e pela voz da Amy Lee e posso afirmar que é a banda sonora da minha vida.
Livro, tenho vários, mas creio que posso escolher como preferido o “Kafka à beira mar” pelas inúmeras mensagens que Haruki Murakami nos transmite.

- Qual o último livro que leste e que te deixou assombrado pela positiva?
Foi esse mesmo, o “Kafka à beira mar” do Haruki Murakami. Há muito tempo que estava para ler Haruki Murakami e não me arrependi. O autor tem um grande dom para escrever de forma simples, mas ao mesmo tempo oferecendo uma magia e um surrealismo complexos que nos envolvem e mexem com a nossa mente, coração e alma.




- Se o Orbias fosse adaptado ao cinema que actores gostarias de ver nos papéis principais (Sebastian e as Guerreiras)?
Bem, eu tenho um segredo. Quando escrevo, imagino sempre as minhas personagens como actores ou cantores que de facto existem. Facilita bastante o “filme” que passa na minha cabeça enquanto escrevo. Não quero que isto ifluencie a imaginação dos leitores, mas gostaria imenso de ver os seguintes artistas: Amy Lee (Noemi), Brandon Flowers (Sebastian), Jessica Alba ou Eliza Dushku (Lorelei), Evangeline Lilly (Riddel), Christina Ricci (Rouge), Florence “and the Machine” (Belladonna) e uma Reese Witherspoon mais novinha (Lily-Violet).

- Consideras que a moda é uma influência importante nos teus livros?
Não é propriamente uma influência directa. Mas eu tenho um gosto especial por moda, até porque adoro desenhar e imaginar personagens com peças de roupa originais. Quando escrevo, tento sempre passar esse meu gosto através das descrições do vestuário das personagens. Em relação a “moda” num sentido mais geral, também gosto de incluir elementos que estejam em voga na altura, como algum filme, artista ou música, pois isso confere alguma actualidade à história e o público identifica-se com ela.

- Preferes o Twitter ou o Facebook?
Houve uma fase em que preferia o Twitter. Mas a sua extrema simplicidade acabou por me aborrecer. Sentia falta de maior interacção com as pessoas e por isso virei todas as minhas atenções para o Facebook. Também devido à divulgação dos livros, não há um dia que passe sem que visite o Facebook.

- Qual a tua viagem de sonho?
Japão! Desde pequeno que sou fascinado pelo Japão, a sua cultura, a forma como misturam tradição e modernismo, o país em si. É um dos meus grandes sonhos. E espero um dia conseguir visitar o país do Anime e do Sushi.

- Tens algum ídolo?
Tenho vários e todos eles pela sua maravilhosa criatividade: Amy Lee (vocalista dos Evanescence), Tim Burton (produtor e realizador), Hironobu Sakaguchi (criador da saga Final Fantasy), Haruki Murakami (escritor), Scott Westerfeld (escritor), entre muitos outros.

- Para além da escrita gostarias de te lançar profissionalmente e arriscar noutro tipo de arte?
Gostava imenso de estudar e trabalhar em Design de Moda. Desde pequeno que gosto de desenhar a forma feminina com diversos estilos de roupas. Mas de uma forma geral, gostava imenso de explorar o meu jeito (ou não) para o desenho e pintura.

- Qual a tua frase ou citação preferida?
Eu diria que é…”A sorte protege os audazes”.

- Tens um curso de comunicação social e já revelaste publicamente teres alguns dissabores com a falta de emprego na área. Apesar disso ainda aconselhas as pessoas a tirarem cursos superiores?
Pergunta complicada…Em dias em que estou de cabeça quente em relação a esse assunto, diria para não tirarem. Mas penso que é importante tirar um curso superior. As coisas estão complicadas no nosso país (e no mundo), mas um dia vão melhorar. Além disso, os cursos superiores dão-nos outros tipos de formação e educação que nso tornam melhores pessoas e melhores profissionais. No meu caso, ajudou-me a melhorar a escrita. Porém, aconselho a terem muito cuidado com o curso que escolhem. Por exemplo, não aconselho ninguém a tirar um curso de comunicação, pois o mercado está saturado e as condições de trabalho nesta área são precárias.

- Consideras que a tua geração é criativa e que pode mudar a forma como se faz cultura e arte?
Penso que sim. Qualquer geração mais jovem, se bem “educada” e inteligente, consegue mudar a cultura e a arte e fazer coisas fantásticas. O exemplo mais directo que me lembro agora é a Lady Gaga, que tem a minha idade. Quer se goste das músicas ou não, ela marca pela diferença e originalidade e construiu o seu próprio sucesso levando a “arte” (nomeadamente a pop art) até à música e aproveitando o marketing de forma inteligente. Mas claro, há inúmero exemplos de sucesso na minha geração. Até posso dizer que a colheita de 1986 foi muito boa, eheh.

- Quais são os teus planos e objectivos para o futuro?
Para já, os meus planos são continuar a escrever. Tive a oportunidade de começar a minha carreira literária e o meu sucesso superou as minhas expectativas. Vou aproveitar para crescer, aventurar-me por outros estilos e géneros para me desafiar. A curto-prazo, também continuo à procura de emprego na minha área da comunicação, mas o nosso país anda bem “lixado” (desculpem o termo, mas é o mais adequado) para dar oportunidades a jovens. Se não conseguir, pode ser que me aventure por outra área, quem sabe. Sou muito novo, o céu é o limite!

- Algum plano para um terceiro livro de Orbias?
Por enquanto, ainda não há planos para um terceiro Orbias. O segundo Orbias fechou um ciclo da história e posso não voltar a pegar na série. Tenho um novo projecto em mãos que gostaria de levar para a frente e a curto-prazo. Será um livro do género fantástico também, mas ligeiramente mais negro e maduro e menos “fantasioso” que os Orbias. No entanto, vou esperar pelo feedback dos leitores para decidir que livro oferecer para o ano: um terceiro Orbias ou um novo livro.






                                                                           "Orbias - O Demónio Branco"
                                                                              Já à venda em todo o país!



5 comentários:

  1. Mas que grande entrevista!!

    Parabéns =)

    ResponderEliminar
  2. Bela entrevista, sempre bem humorada e com perguntas diferentes do que se costuma ler, mas bem interessantes.

    ResponderEliminar
  3. Entrevista bem estruturada, respondida com um excelente humor,e muito interessante. Parabéns!

    ResponderEliminar